Não é a primeira e não será a última. A diferença, agora, é que mudaram os atores, já que o governo de Pernambuco, após 16 anos de PSB, está sob gestão do PSDB, com a governadora Raquel Lyra à frente.
Esse é o mecanismo da briga entre empresários, trabalhadores e o governo estadual, gestor do sistema de ônibus do Grande Recife: os operadores do sistema usam os motoristas de ônibus (cobradores não existem mais, vale lembrar) para pressionar o governo do Estado a pagar o subsídio público em dia, enquanto os rodoviários usam a população para pressionar os empresários a pagarem seus salários. Essa é a lógica e a leitura verdadeira dessas e da maioria das manifestações da categoria.
Não é à toa que a manifestação desta quinta teve como razão o atraso no pagamento da quinzena dos rodoviários, que foi adiada, segundo os operadores, devido à indefinição do Estado em pagar o subsídio das empresas permissionárias. Vale lembrar que o sistema de ônibus do Grande Recife é uma máquina que movimenta R$ 1,2 bilhão por ano (incluindo receita e subsídios públicos).
Como já alertado, a decisão da governadora Raquel Lyra de não aumentar a passagem pelo segundo ano consecutivo e unificar os anéis tarifários pelo menor valor foi excelente para o passageiro, mas teve e terá consequências ruins para o sistema.
Isso porque, o mesmo Estado que tomou a decisão política e social de não onerar ainda mais o usuário de um sistema de transporte ruim, quente, velho e sem prioridade nas ruas, não previu melhorias reais para o setor. E, pelo menos até agora, não deu sequer garantias legais de que o aumento do subsídio público – estimado em mais R$ 60 milhões será pago, de fato, às empresas permissionárias, que são aquelas que não têm contrato licitado com o governo e são a maioria dos operadores (oito empresas e consórcios das dez que operam o sistema).
É importante dizer que o sistema de ônibus do Grande Recife recebeu R$ 250 milhões em subsídios públicos em 2023 e tem previsão de ultrapassar os R$ 310 milhões em 2024.